Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal
de Ceferino Carrera
Vinho Regional - "Terras Madeirenses"
LEGISLAÇÃO BASE
Portaria Nº 86/2004 de 2 de Abril, da Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, Portaria Nº 87/2004 de 2 de Abril, da Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais e Declaração de Rectificação, de 24 de Maio de 2004, da Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, que rectifica o anexo único da Portaria Nº 86/2004, de 2 de Abril.
ÁREA GEOGRÁFICA
A área geográfica correspondente ao Vinho Regional ”Terras Madeirenses” abrange as ilhas da Madeira e do Porto Santo.
Tipos de vinho |
Rendimento hl/há |
Título Alcoométrico Volúmico Mínimo (%Vol.) |
Branco |
90 |
10 Adquiridos |
4 meses de Env. |
Tinto |
100 |
10 Adquiridos |
- |
Rosado |
100 |
10 Adquiridos |
- |
CASTAS RECOMENDADAS
Tintas: Aragonêz (Tinta Roriz), Bastardo, Cabernet Sauvignon, Complexa, Deliciosa, Malvasia Roxa, Merlot, Syrah, Tinta Barroca, Tinta Negra, (Tinta Negra Mole), Touriga Franca e Touriga Nacional.
Brancas:Arinto, Arnsburger, Carão de Moça, Chardonnay, Chenin Blanc, Malvasia Cândida, Malvasia Fina (Boal) Malvasia de São Jorge, Sauvignon Blanc, Sercial, Folgasão (Terrantez), Ugni Blanc e Verdelho.
A certificação do Vinho Regional "Terras Madeirenses" é feita pelo Instituto do Vinho, do Bordado, e do Artesanato da Madeira, I.P..
Retalhos históricos desta Região
MADEIRA
Uma fortaleza frente ao mar
O descobrimento do Arquipélago da Madeira iniciou a expansão marítima portuguesa. Hoje é um destino turístico de excepção, um mundo no meio do Atlântico que soube combinar o melhor do seu passado com uma magnífica perspectiva de futuro.
A Região Autónoma da Madeira é formada pelas ilhas da Madeira, a maior de todas elas, Porto Santo, conhecida pelo seu dourado e extenso areal, as Desertas, desabitadas, e as Selvagens, também desabitadas e mais próximas das ilhas espanholas das Canárias que do resto do arquipélago madeirense.
A ilha da Madeira assemelha-se a uma enorme fortaleza que se ergue sobre o mar. Altas falésias, que caem em vertical sobre a espuma das ondas do Atlântico Norte, parecem guardar um tesouro que apenas intuímos quando o avião, depois de hora e meia de voo desde Lisboa, se aproxima do novo Aeroporto Intercontinental da Madeira.
Ao aterrar, abre-se o pano de um cenário de beleza invulgar. Um florido manto verde, pincelado de casas brancas e montanhas, cuidadosamente dobradas em desfiladeiros e profundos vales, cortados por inúmeros cursos de água que correm e saltam por uma paisagem saída dos pincéis de um artista romântico, trazida à vida de entre o nevoeiro, a qual redescobrimos a cada curva do caminho. Assim, torna-se fácil ainda, apesar das infra-estruturas que se desenvolveram na ilha e que a transformaram num privilegiado destino, quer para uma estadia de lazer, quer para uma viagem de negócios, imaginar qual foi a impressão daqueles marinheiros intrépidos que por primeira vez a avistaram e que lhe deram o nome de Madeira, pela densidade e exuberância da sua vegetação.
Foi em 1419, a mando do Infante D. Henrique, que o Arquipélago da Madeira, já citado em 1350 no «Libro dei Conoscimento» e representado em mapas italianos e cataiães do século XIV, foi redescoberto por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira. Assim, pode-se considerar que foi este o primeiro dos descobrimentos portugueses no século XV. O povoamento tentou-se fazer primeiro em Porto Santo, sendo só posteriormente explorada e povoada a ilha da Madeira, com o fim de encontrar aqui apoio à expansão marítima de Portugal.
Assim, desde o século XV, a Madeira desempenhou um importante papel nas grandes descobertas portuguesas, tornando-se também famosas as ricas rotas comerciais que ligavam o porto do Funchal a todo o Mundo Atlântico. Foi também na Madeira e no Porto Santo que o mercador Cristóvão Colombo aprofundou os conhecimentos da navegação atlântica.
Com a chegada dos primeiros povoadores, a fertilidade dos solos e as benesses do clima levaram a um pronto cultivo da terra. O cultivo do trigo, na sua maior parte exportado para o continente, rapidamente cedeu importância ao cultivo da cana-de-açúcar, principalmente destinado a alimentar o tráfego comercial, e à exportação do «ouro branco» para toda a Europa trouxe imediatamente a opulência a ilha. Este ciclo do esplendor açucareiro foi a época de maior desenvolvimento económico e cultural da Madeira. Hoje, o Museu de Arte Sacra do Funchal, por exemplo, possui uma das mais representativas colecções mundiais de pinturas flamengas. A Sé do Funchal, a Igreja e o Convento de Santa Clara, as Igrejas da Calheta, de Santa Cruz e de Machico são também ilustradores do rápido enriquecimento alcançado pela ilha. Porém, em finais do século XVI, a concorrência da cana-de-açúcar vinda do Brasil e das Américas espanholas provocou a queda dos rendimentos madeirenses. No entanto, o Vinho da Madeira veio substituir a importância do açúcar nas rotas comerciais atlânticas que tinham no Funchal uma paragem obrigatória. Poucos anos depois de povoada, já esta ilha produzia alguns vinhos, mas foi no século XVI e, sobretudo, desde a íntima aliança entre Portugal e Inglaterra pelo casamento da infanta D. Catarina com Carlos II, em 1660, que a exportação começou a fazer-se em larga escala. A importância alcançada pelas alfândegas madeirenses chamou a cobiça pirata que levou a construção de numerosas fortaleças, como a do Ilhéu, S. João e São Tiago.
O desenvolvimento da cultura agrícola madeirense só foi possível com o gigantesco trabalho da construção das levadas, que durou séculos. As levadas são uma rede de pequenos aquedutos que levam a água desde as nascentes das terras altas até aos campos de cultivo, e que passaram a ser também, em alguns casos, as únicas vias de comunicação. Hoje, além de manter as suas originais funções, são vias que oferecem magníficos percursos pela ilha permitindo-nos gozar das suas maravilhas naturais, mostrando-se como uma mais dos incontáveis atractivos turísticos da Madeira.