Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal
de Ceferino Carrera
Vinhos Regionais - Vinho Regional Algarve
Algarve oriental
Cerca de 200 quilómetros de costa, três mil horas de sol por ano e as temperaturas mediterrânicas, fazem do Algarve um destino de férias por excelência.
Situado no extremo ocidental da Península Ibérica, no Sul de Portugal, facilmente o Algarve se individualiza do resto do país. A região confina a norte com o Alentejo, a este é separada da região espanhola de Andaluzia pelo Rio Guadiana, e a oeste e a sul é banhada pelo Oceano Atlântico.
Geologicamente, podemos subdividir o Algarve em três sub-regiões: a Serra, o Barrocal e o Litoral.
Paralelamente a esta divisão, podemos estabelecer uma outra, que divide a costa em Barlavento - a costa oeste, onde o fresco vento norte mais se faz sentir e Sotavento — a costa leste, onde não raramente sopram as brisas do levante.
Faro, reconquistado aos árabes por D. Afonso III em 1249 e capital do Algarve desde meados do séc. XVIII. A cidade, que guarda um apreciável património histórico e cultural, é hoje uma cidade moderna e um importante centro comercial e de serviços, constituindo uma das principais portas de entrada no Algarve.
Ali ao lado, a cidade cubista de Olhão orgulha-se do seu valioso património arquitectónico, feito de influências árabes. Exemplo disso são as açoteias que encimam as casas mais tradicionais, onde se procura a frescura nas quentes noites de Verão e se secam os figos e as amêndoas.
No coração do Sotavento algarvio, Tavira transporta-nos para tempos remotos, onde fenícios, romanos, árabes e cristãos deixaram marcas da sua presença. A cidade mantém hoje todo o seu encanto, preservando um imenso património histórico: o castelo, a ponte de origem medieval, palacetes e inúmeras igrejas, capelas, ermidas e conventos.
Esta zona do Algarve apresenta uma paisagem de contrastes, com um ponto em comum: o Parque.
Natural da Ria Formosa. Lugar de canais, lagoas e sapais, aqui as águas brilham e as cores misturam espécies únicas de fauna e flora. E nas ilhas de Faro/Barreta, Farol/Culatra, Armona, Tavira e Cabanas, em plena Ria, descobrem-se os prazeres do sol e da praia.
Uma vez chegado a Vila Real de Santo António, cujo centro histórico apresenta traçado pombalino, aproveite para seguir Guadiana acima e descubra outros encantos que o grande rio do Sul guarda, por entre salinas e sapais, barragens e ribeiras. Pelo caminho, Castro Marim e Alcoutim revelam a natureza genuína do modo de ser do mundo rural, a par de um património natural e arqueológico de grande riqueza, feito de vestígios milenares, do Neolítico às presenças romana e árabe.
Retalhos históricos desta Região
LAGOA
Vila situada numa área levemente ondulada a este de Portimão, no meio de vinhedos e casas brancas. É a mais importante terra de vinho do Algarve, que leva o nome da região para além das suas fronteiras. O seu topónimo deriva do facto de, outrora, Lagoa se situar à beira de um grande campo alagado. O seu concelho constituiu-se em 1713, após se ter desmembrado do de Silves, no ano em que Lagoa foi elevada a vila. Em 1755 a povoação ficou praticamente destruída com o terramoto, embora ainda subsistam na vila diversos edifícios manuelinos.
LAGOS
"Fundou-a El-Rei Brigo, impondo-lhe o nome de Lacóbriga, que significa lago, 1897 anos antes de Cristo; outros dizem que tomou o nome de uns lagos que antigamente aqui havia, o que é mais provável".
Prof. José Hermano Saraiva
O concelho de Lagos fica a cerca de 80 quilómetros da capital de distrito, Faro, e divide-se em três zonas distintas: o litoral, o barrocal e a serra, sendo que a maior parte dos habitantes se concentra no litoral e tem emprego no sector dos serviços. Já no barrocal, predominam as actividades agrárias, enquanto na serra se vive sobretudo da exploração dos recursos florestais. As praias do município surgem por entre dobras de rocha de cor amarelada, o que levou a que esta parte do litoral passasse a ser conhecida como Costa do Ouro.
Lagos é uma antiga urbe marítima e sobre a história remota existem documentos escritos e vestígios arqueológicos que atestam que já existia há mais de dois mil anos. No entanto, a data a partir da qual o concelho se torna, em termos históricos, conhecido é a de 228 a.C., quando se celebrou o tratado entre cartagineses e romanos que fixava o rio Ebro como fronteira entre estes dois povos.
Nesta época, Lacóbriga, a antepassada da Lagos actual, conhecia uma fase de grande desenvolvimento, que se manteve até ao século VII. A origem de Lacóbriga é praticamente desconhecida e, ao pouco que se sabe, até terão existido duas, em locais diferentes. A primitiva povoação teria sido destruída por um terramoto, no século IV a.C., sem deixar vestígios. A segunda foi fundada por Bohodes, capitão ou governador cartaginês que fez parte das forças militares de Cartago, que ocuparam o sul da Península Ibérica, no final do século IV a.C. No período de ocupação romana, Lacóbriga foi uma importante cidade, mas, a partir de 713, altura em que os árabes dominavam em absoluto a Península, deixou de se falar nela.
Lagos passou em definitivo para território português em 1249 ou 1250, no reinado de Afonso III. D. Afonso IV mandou continuar a construção das suas muralhas e, no reinado de D. Afonso IV, passou a ser a sede do governo das Armas do Algarve, que aqui se manteve até ao terramoto de 1755, cujos efeitos foram devastadores para esta terra. Apesar disso, ainda conserva uma extensa cerca de muralhas do século XVI e os restos do castelo dos governadores, assim como do antigo mercado de escravos.
Na época dos Descobrimentos, Lagos teve uma enorme importância. Foi base de empresas marítimas, porto de construção e armamento dos navios e ponto de partida de quase todas as caravelas que partiram para as Descobertas. Daqui saíram expedições para Marrocos e para a costa ocidental africana. O infante D. Henrique viveu na cidade, no castelo, depois palácio dos Governadores.
A pesca foi, desde tempos remotos, a principal fonte de riqueza do concelho, enquanto as trocas comerciais marítimas constituíam também uma actividade significativa. Mas, a partir da década de 60 do século XX, Lagos virou decisivamente para o turismo, actualmente a actividade económica mais importante.
Sem esquecer os bons vinhos que aqui são produzidos.
MONCHIQUE
A Vila de Monchique encontra-se aninhada num vale que decorre entre os altos da serra de Monchique. Dos bons ares da serra às características terapêuticas das suas águas, conta-se que os romanos foram atraídos por esta localidade, dando assim início ao seu povoamento. A eles se deve a construção de um importante balneário, onde hoje se situam as famosas Caldas de Monchique e respectivas termas.
Apelidada de jardim algarvio, ou pulmão do Algarve, a sua localização privilegiada e o repouso que as suas termas proporcionam, aliadas a uma excelente gastronomia, converteram Monchique num local de grande interesse turístico. Em pleno coração da Serra de Monchique, esta vila desenha-se com casas caiadas de branco, chaminés algarvias e estreitas ruas calcetadas.
Ao centro, a população cruza-se na pequena praça, enquanto os turistas aí procuram o descanso numa esplanada ou a sombra de uma árvore.
Não deixe de conhecer as Caldas de Monchique, a cerca de 6 km de distância, em direcção a sul. Muito procuradas pelas suas propriedades medicinais, em especial no tratamento de doenças reumáticas e respiratórias, as instalações termais das Caldas de Monchique estão localizadas a 350 metros de altitude, rodeadas por um frondoso parque.
No complexo termal, além da conhecida fonte envidraçada onde a água não deixa de jorrar, é possível ainda visitar a capela de Santa Teresa, onde a vida da Santa é contada através de um painel de azulejos.
PORTIMÃO
Cidade estendida pela margem direita do estuário do rio Arade. Vive essencialmente do turismo e da pesca, possuindo grandes unidades hoteleiras e de habitação, nomeadamente ao longo da faixa costeira da Praia da Rocha. Possui também o segundo porto pesqueiro do Algarve, desde sempre frequentado por navegadores e pescadores e um dos mais movimentados do país. É uma povoação relativamente recente, sem grande história ou monumentos de vulto, mas que terá sido frequentada por Fenícios, Cartagineses, Gregos e Romanos. A presença romana prende-se com as boas possibilidades que o amplo estuário do Arade oferecia para aportar as suas embarcações e é testemunhada pela existência de restos de um tanque de salga e de um balneário. Supõe-se que o topónimo advenha do latim Portus Magnus (“Porto Grande”). Sabe-se que foi cercada de muralhas, pois há indícios em algumas quintas, e recebeu diversos privilégios pela mão do rei D. Afonso V. D. Manuel I outorgou-lhe foral em 1504.
Portimão possui o Jardim do Visconde de Bívar e inúmeras esplanadas na Praia da Rocha. Esta é realmente a zona mais movimentada com grande oferta de restauração, os melhores hotéis e as noites mais quentes. Perto existem afloramentos de rocha que emergem do mar, como os Três Ursos, as Rochas Furadas e o Dois Irmãos, que constituem uma excelente alternativa do passeio para quem não aprecia passar todo o dia a queimar ao sol na praia.
SAGRES
Vila do concelho de Vila do Bispo, situada perto da ponta de Sagres, cuja enseada forma um excelente porto natural e em cujo extremo superior está o cabo de São Vicente. Tem de interesse para ver o Convento dos Jerónimos (edificado no tempo de D. Afonso III sobre a casa dos romeiros de São Vicente), com igreja e uma enorme rosa-dos-ventos no chão da praça-forte; a Igreja da Praça (que inclui uma imagem de Santa Catarina); as muralhas de Sagres (reconstruídas no século XVIII); e, entre Sagres e Vila do Bispo, as grutas do Monte Francês, indicadas para espeleologia. Aqui seria a sede da lendária escola náutica fundada pelo infante D. Henrique, o célebre navegador da «ínclita Geração», que viveu em Lagos e teve um papel fundamental na defesa do Algarve contra os ataques dos piratas mouros.
TAVIRA
"Em todo o Algarve não havia porto tão seguro como o que o estuário do Gilão oferecia. O mar era extremamente rico de pescado: no século XIV existiam 70 cercos para a pesca da sardinha!"
José Hermano Saraiva
Situado nas margens do rio Gilão, o concelho de Tavira é o terceiro maior dos dezasseis municípios que constituem o Algarve. Está situado na zona do Sotavento e a sua paisagem é caracterizada por três unidades distintas: litoral, barrocal e serra. O litoral envolve-se em rios, pântanos e lagunas e entre a povoação e o mar há uma língua de areia que só se alcança de barco.
Na pré-histórica, a posição paralela ao mar e boas condições de porto tornou Tavira um lugar cobiçado pelos povos pré-históricos, proto-históricos e históricos. No século VIII a.C., os fenícios estabeleceram aqui uma fortaleza, na colina hoje designada de Santa Maria. O período de ocupação romana deixou marcas na antiga cidade de Balsa (poucos quilómetros a ocidente de Tavira), referenciada em fontes documentais antigas. Toda a zona designada pelos muçulmanos de Al Garb Al Andaluz foi ocupada por estes a partir do ano de 712, mas só muito mais tarde Tavira surge nas fontes escritas. As primeiras notícias datam só do século XI e referem-se ao movimento do seu porto. Os muçulmanos reconstruíram as muralhas da povoação, que estão em parte conservadas.
Em 1242, Tavira foi conquistada aos mouros por intermédio do mestre da Ordem de Santiago, D. Paio Peres Correia, e seu exército. A partir de meados do século XIII, depois da reconquista cristã do Algarve, a intensidade da vida urbana no litoral aumentou. Nos séculos seguintes, Tavira acumularia importância devido à sua posição geográfica privilegiada e ao dinamismo do seu porto. Em 1520, D. Manuel elevou a vila a cidade, concedendo-lhe um segundo foral, por ser o mais importante porto comercial e o principal aglomerado populacional do Algarve, onde a vinha é uma realidade.
Com o tempo, no entanto, a actividade portuária começou a abrandar, reflectindo-se na perda de importância estratégica, económica e social da cidade.
E isso deveu-se a vários factores, entre os quais o abandono das praças de África, a mudança dos mercadores e homens ricos para Sevilha perante novas perspectivas do comércio com as Índias ocidentais, o assoreamento do rio e o aumento da tonelagem das embarcações.
Tavira ficou então limitada às pescas, às salinas e à agricultura, centradas nas produções tradicionais de exportação. A cidade perdeu o bulício de outros tempos e estagnou em termos económicos e demográficos. O crescimento urbano do século XVI até meados do século XIX apenas teve expressão na Ribeira e mios quarteirões que lhe equivalem na margem direita do rio.
A actividade pesqueira foi sempre importante. Contudo, nos anos 50 do século passado, com o afastamento dos cardumes de atum da costa, a pesca entrou também em crise.
FARO
Cidade, de concelho e de comarca, situada junto à Ria Formosa, à beira mar, na margem esquerda da ribeira da ribeira de Marchil. Está separada do Atlântico por vários esteiros da Ria Formosa e pelas ilhas arenosas de Anção, Barreta e Culatra. Sendo a capital do Algarve desde 1756, vive essencialmente do comércio e dos serviços, embora tenha alguma indústria de conservas, cortiça e alimentar. Antes do actual topónimo, que provém do árabe de Fáraon, a povoação teve o nome de Santa Maria e, anteriormente, o de Ossónoba. De origem cartaginesa, foi uma importante cidade no tempo dos Romanos, tendo mesmo chegado a cunhar moeda com simbologia própria. No ano de 1249 D. Afonso III conquistou Faro iniciando-se uma época de prosperidade que só foi abalada por três terremotos ocorridos no século XVI, pelo terramoto de 1755 e pelo saqueio das tropas inglesas comandadas pelo conde de Essex.
A cidade possui o Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, o Museu da Ciência Viva e o Museu Etnográfico Regional, com serigrafias e maquetas sobre a tradicional técnica da pesca de atum.
Para além do Vinho Regional Algarve produz-se também nesta região um vinho licoroso, de grande tradição, com a indicação geográfica Algarve.
Portaria n.º 364/2001, de 9 de Abril, Decreto-Lei Nº 212/2004, de 23 de Agosto e Portaria Nº 817/2006, de 16 de Agosto.
ÁREA GEOGRÁFICA
Abrange todo o distrito de Faro.
Tipos de vinho |
Título Alcoométrico Volúmico Mínimo (%Vol.) |
Branco |
11 Adquiridos |
Tinto |
11,5 Adquiridos |
Rosado |
11 Adquiridos |
Licoroso tinto |
19 Adquiridos |
Licoroso Branco |
15,5 Adquiridos |
CASTAS RECOMENDADAS
Brancas:Alicante Branco, Antão Vaz, Arinto (Pedernã), Chardonnay, Diagalves, Fernão Pires (Maria Gomes), Malvasia Fina, Malvasia Rei, Manteúdo, Moscatel Graúdo, Perrum, Rabo de Ovelha, Riesling, Sauvignon, Síria (Roupeiro), Tália, Tamarez, Terrantez, Trincadeira das Pratas, Verdelho, e Viognier.
Tintas: Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonêz (Tinta Roriz), Baga, Bastardo, Cabernet Sauvignon, Caladoc, Castelão, Cinsaut, Grand Noir, Grenache, Merlot, Monvedro, Moreto, Moscatel Galego Tinto, Negra Mole, Pau Ferro, Petit Verdot, Pexem, Pinot Noir, Syrah, Tinta Barroca, Tinta Caiada, Tinta Carvalha, Tinto Cão, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira (Tinta Amarela).
CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS
Vinhos Brancos: De aspecto límpido, de cor desde o citrino ao palha, delicados, suaves; estes vinhos têm baixa acidez e são razoavelmente alcoólicos.
Vinhos Tintos: Trata-se de vinhos de uma maneira geral abertos de cor rubi, pouco encorpados, aveludados, leves e razoavelmente galhardos de álcool com sabor a fruta e pouco acídulos.