Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal
de Ceferino Carrera
Vinhos Regionais - Vinho Regional Alentejano
Pequenos retalhos históricos desta Região
O Encanto do Alentejo
Quando viajamos de Portalegre a Beja e outras paragens desta região, notamos, pouco a pouco, como a dialéctica entre Norte e Sul desaparece na calma dos campos dourados.
Descobrimos uma terra que soube harmonizar uma infinidade de influências e construir com elas uma identidade própria.
Nesta ocasião vamos palmilhar as terras situadas no extremo sul e norte dessa grande região que é o Alentejo. O Alto Alentejo, onde a Beira se dilui pelas searas que se vão fazendo cada vez mais extensas, e as planícies douradas do Baixo Alentejo. Habitada desde a pré-história, toda a zona guarda restos megalíticos que são os predecessores da riqueza patrimonial que aí deixaram todos os povos que pela península Ibérica passaram. A proximidade da fronteira espanhola é outro dos denominadores comuns desta terra castiça e de fortes tradições. Durante séculos, as numerosas fortificações, que hoje são os melhores miradouros sobre estes vastos horizontes, salvaguardaram a integridade de Portugal frente à ambição do nosso vizinho. Tanto a norte como a sul, surgem no caminho do viageiro aldeias históricas, vilas medievais, antigas judiarias e morarias tão bem conservadas que parecem detidas no tempo.
O Alto Alentejo, que praticamente corresponde aos quinze concelhos do distrito de Portalegre, é uma terra de transição, entre as vastas extensões planas que representam o Alentejo no imaginário português e as serras e vales profundos que se podem desfrutar no distrito de Castelo Branco. Este Norte Alentejano é menos plano, mais verde, menos amplo, mais variado. Junto com os espaços abertos e levemente ondulados da peneplanície encontramos relevos vigorosos, como os da serra de São Mamede, e vales marcados. Ainda não estamos no domínio hegemónico do monte alentejano de taipa e xisto, aqui ainda reina a quinta e o granito. Ainda não chegamos aos enormes latifúndios dos grandes agricultores oitocentistas que governaram as relações sociais e económicas, mais a sul, durante gerações; aqui ainda são divididos entre vários proprietários os terrenos onde se plantam vinhedos, hortas, pomares e olivais. Nas encostas que recortam o céu as árvores de folha caduca ainda não claudicaram frente ao sobreiro e a azinheira, donos das terras do sul.
De norte a sul a peneplanície vai descendo de altitude, degrau a degrau, até alcançar as terras de Avis, esse espaço imenso e pouco povoado. Os campos cerealíferos vão ocupando cada vez maior lugar, enquanto o branco intenso do casario salpica, onde quer que olhemos, o largo horizonte. A luz parece cada vez mais forte e os Verões fazem-se cada vez mais compridos e secos. Saímos da influência do Tejo para nos dirigirmos ao Guadiana.
No distrito de Beja encontramos então a imagem mais difundida do Alentejo: as intermináveis planícies cobertas de espigas douradas, montados e olivais. As casas caiadas convivem aqui com um sem fim de mosteiros, conventos, igrejas e ermidas fruto de uma devoção generosa e ancestral. As diferentes épocas sobrepõem-se de uma maneira quotidiana sem drama. O património artístico, histórico e natural é nesta zona uma surpreendente descoberta que saciará as expectativas da alma mais inquieta e atenta. Na sua paisagem aberta, este património forma um segredo à vista, esperando ser decifrado.
Tratando-se do Alentejo, não podemos deixar de mencionar os efeitos balsâmicos da sua gastronomia e o poder rejuvenescedor dos seus afamados vinhos. Qualquer que seja a sua disposição ou seja a sua disposição ou seja qual for o motivo que até terras alentejanas o levou, seja a pratica de desportos chamados radicais, seja apelo das suas barragens nos dias de Verão, o eco-turismo, escolher entre os bem conhecidos pratos da região ou entre a sua interminável lista de vinhos será tarefa árdua Mas não se preocupe: é impossível sair defraudado.
No que respeita a vinha a imensidão de horizontes planos, ou quase planos, aliada à sua meridionalidade, oferecem ao Alentejo características Mediterrâneas e Continentais. A insolação tem valores bastante elevados, o que se reflecte na maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem as vindimas, conferindo-lhes uma perfeita acumulação de açúcares e de matérias corantes na película dos bagos. As vinhas localizam-se, na sua maioria, em substrato geológico de rochas plutónicas (granitos, tonalitos, sienitos e sienitos nefelínicos) sendo contudo de salientar, a diversidade de manchas pedológicas nas quais as vinhas são instaladas (nomeadamente manchas xistosas e Argilo-calcários).
ÉVORA
Linda cidade monumental, capital do Alto Alentejo. Declarada em 1986 Património da Humanidade pela UNESCO, é uma verdadeira cidade-museu, situada numa ampla colina de brandos declives e largos horizontes, na margem direita do rio Xarrama, afluente do Sado. Évora atrai de forma irresistível o visitante, não só pela monumentalidade como também pela sua grandeza histórica. Era já uma cidade importante durante a ocupação romana, denominada Liberalitas Julia, como demonstram as ruínas de um templo clássico dos séculos II-III (Templo de Diana) e os vestígios de uma cerca de muralhas. Nos começos do século IV aparece como cabeça de diocese e, no século XII, era já muito populosa e defendida por um forte castelo e sólidas muralhas. Durante toda a Idade Média foi um importante centro cultural tendo desempenhado também um papel militar de relevo. A melhor forma de conhecer a cidade é passeando tranquilamente a pé, pelas suas belas ruas. Pode começar pela Rua 5 de Outubro, que une a Praça do Giraldo com a Sé de Santa Maria.
A Sé é um sólido edifício de estilo gótico primitivo, com pormenores românicos, cujas obras foram iniciadas em 1186. A Igreja de São Francisco, do século XIII, é a segunda mais importante em Évora depois da Sé e uma das maiores construídas na Idade Média. Em estilo gótico, possui uma só nave, com poucas janelas, apresentando uma arrojada abóbada ogival com a cruz de Cristo nos bocetes. O portal é de mármore de Estremoz e no seu interior sobressai a Capela dos Ossos, um lugar sinistro, coberto com os de 5000 monges enterrados no cemitério do convento. Nos arredores da cidade é ainda possível ver-se inúmeros restos neolíticos, datados do período entre 4000 e 2000 a.C., como por exemplo o Cromeleque de Almendres, o Dólmen de Zambujeiro ou o Menir de Almendres. Muitas são também as igrejas destacando-se o Convento e Igreja dos Lóios, ou de São João Evangelista, a Igreja do Espírito Santo, a Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça, a Igreja da Misericórdia, a Igreja e Convento de Santa Clara, a Igreja de Santo Antão e a Igreja de São Tiago.
Destaque ainda para os antigos Paços do Concelho (século XVI), o antigo Paço Arquiepiscopal (século XVII) e o edifício da Universidade, que remonta ao século XVI. Fundada pelos jesuítas no século XVI, foi um dos mais importantes focos de saber em Portugal, tendo sido encerrada em 1759, com a expulsão da ordem pelo Marques de Pombal. Restam dezenas de edifícios civis dignos de nota como o Palácio de D. Manuel, o Palácio dos Condes de Basto, o Palácio dos Duques de Cadaval, a Casa Cordovil e a Casa de Garcia Resende. À saída da cidade, em direcção a Arraiolos, admire o Convento da Cartuxa, construído em finais do século XVI, com interessante claustro e forrado a azulejos do século XVIII. A cidade possui um Museu Regional, instalado no antigo Palácio Arquiepiscopal e Museu de Arte Sacra da Catedral.
Satisfazendo os requisitos de qualidade e de tipicidade conformes com a tradição do vinho desta região, o Vinho Regional Alentejano apresenta características próprias, sendo muito apreciado.
Portaria n.º 623/98, de 28 de Agosto, e Portaria n.º 394/2001, de 16 de Abril.
Área Geográfica
Abrange os distritos de Portalegre, Évora e Beja.
Tipos de vinho |
Título Alcoométrico Volúmico Mínimo (%Vol.) |
Branco |
11 Adquiridos |
Tinto |
11 Adquiridos |
Rosado |
11 Adquiridos |
CASTAS RECOMENDADAS
Brancas: Alicante Branco, Antão Vaz, Arinto (Pedernã), Bical, Chardonnay, Chasselas, Diagalves, Encruzado, Fernão Pires (Maria Gomes), Gewürztraminer, Larião, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Manteúdo, Moscatel Graúdo, Mourisco Branco, Perrum, Rabo de Ovelha, Riesling, Sauvignon, Sercial (Esgana Cão), Síria (Roupeiro), Tália, Trincadeira das Pratas, Verdelho, Viognier e Viosinho.
Tintas: Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonêz (Tinta Roriz), Baga, Cabernet Sauvignon, Caladoc, Carignan, Castelão (Periquita), Cinsaut, Corropio, Grand Noir, Grenache, Grossa, Manteúdo Preto, Merlot, Moreto, Petit Verdot, Pinot Noir, Syrah, Tinta Barroca, Tinta Caiada, Tinta Carvalha, Tinto Cão, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira (Tinta Amarela).
CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS
Vinhos Brancos:
A Cor
Pelas condicionantes climáticas os vinhos brancos alentejanos oscilam entre o citrino e o palha. Por vezes podemos encontrar reflexos esverdeados, mas esta não é a regra. Com o andar dos tempos é crescentemente utilizada, o que faz com que ao palha se somem tons de dourados.
O Aroma
Os frutos maduros e tropicais são bastantes comuns. No entanto, hoje em dia com as novas tecnologias (vindimas mais realizadas mais cedo e com o uso das vasilhas em aço inoxidável com controlo de temperatura), aparecem vinhos mais nervosos, frutados e citrinos.
O Sabor
É aveludado na maior parte das vezes, redondos e cheios na boca. Regra geral, a acidez cada vez é mais uma realidade, que torna os vinhos mais frescos, leves e fáceis ao gosto do consumidor comum. Nalguns casos, aparecem as notas minerais e em alguns exemplos fermentados em madeira nobre que os tornam mais untuosos, o volume de boca, a fruta madura e os amanteigados encantam o mais exigente dos apreciadores.
Vinhos Tintos:
A Cor
Os vinhos mais prestigiosos da região não são normalmente muito intensos de cor, mesmo quando jovens, já que a vinificação com maceração breve privilegia o consumo mais cedo, em detrimento da extracção de cor e taninos. Nestes casos, os vinhos apresentam-se com bonitas cores rubi, brilhantes, com alguma concentração no centro do copo.
Aromas
Os vinhos jovens são geralmente bastante frutados, muito limpos, com aromas suaves de frutos vermelhos bem maduros. Os vinhos de classe superior apresentam-se muitas vezes algo fechados de aroma quando jovens, com grande concentração aromática, que abre no copo em matizes de frutos vermelhos maduros, uvas passas, figos, chocolate. Por vezes, nalguns vinhos, sente-se igualmente uma componente aromática animal, de couro, que, quando ligeira, se traduz até numa complexidade acrescida ao vinho. Quando excessiva, acaba por abafar a fruta e torna-se um pouco prejudicial.
Presentemente, muitos dos vinhos de mais prestígio passam por um estágio em madeira nova de carvalho francês ou português.
O Sabor
Quando são jovens, os vinhos tintos alentejanos apresentam-se muito vivos no sabor, com as fermentações a temperaturas controladas a tirar o melhor partido da qualidade das castas. Repletos de fruta, muito macios, suaves, são vinhos muito fáceis de degustar.
Os tintos de garrafeira apresentam-se, quando jovens, com sabores intensos, ricos, com os taninos muito redondos bem envolvidos pela estrutura do vinho. Amoras maduras, cacau, por vezes pimentos (quando na lotação entra um pouco da casta Cabernet Sauvignon), a par da suave baunilha dada pela madeira, são alguns dos seus sabores de juventude.
Com o estágio em garrafa, os vinhos evoluem para sabores mais quentes e complexos, lembrando o tabaco, por vezes couro, folha de chá e especiarias.
A certificação do Vinho Regional Alentejano é feita pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.