Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal
de Ceferino Carrera
Influência dos agentes químicos e físicos sobre a fermentação alcoólica
Vejamos agora como se comportam todos estes pequeníssimos seres em presença dos agentes que, por acção química ou física, os podem destruir, dificultar-lhes a vida ou também favorecê-la. Se conseguirmos controlar a acção de tais agentes, e são eles:
- - o calor
- - o oxigénio
- - o oxigénio
- - o álcool
- - os ácidos
- - o gás sulfuroso
temos a nosso favor todas as vantagens de uma fermentação em boas condições.
O calor
A temperatura óptima para uma fermentação deve manter-se à volta de 25°. As fermentações abaixo dos 20° são mais demoradas, mas o vinho resulta com mais perfume, menos corpo e mais pobre em cor do que teria se a temperatura fosse mais elevada; é um vinho delicado e aromático. Quando a temperatura é superior a 32° ou 33°, as bactérias desenvolvem-se mais à vontade, especialmente a Manite, em todo o caso, a bactéria da Azedia (Acetobacter) só muito excepcionalmente se desenvolve acima de 33°.
Enquanto a actividade das leveduras pode decrescer e mesmo paralisar, há perdas de perfume e álcool, a sanidade do produto por vezes ressente-se, mas em contrapartida os vinhos são encorpados e ricos em cor.
O oxigénio
As leveduras são seres vivos e, à semelhança dos seres superiores, alimentam-se e reproduzem-se. Para se reproduzirem necessitam de oxigénio do ar e quanto mais lhes facultarmos este elemento mais lhe favorecemos a vitalidade.
Mas há uma circunstância, ligada ao fenómeno fermentativo, que coloca à nossa disposição os meios de tirar do trabalho das leveduras o melhor rendimento. É que a levedura alcoólica, aeróbia por natureza, suporta igualmente a vida anaeróbia, isto é, sem ar (oxigénio) ou dispondo dele em quantidade diminuta, ela continuará a viver reproduzindo-se embora com mais lentidão, porque vai buscar forçadamente ao açúcar, através do seu desdobramento em álcool e gás carbónico, os elementos de que carece. Quer dizer, o álcool é pelo menos, na sua maior parte, o resultado das dificuldades da vida encontrada pela levedura.
Depreende-se assim que quanto mais oxigénio mais reprodução e menos trabalho rendoso: quanto menos oxigénio menos reprodução e mais trabalho útil.
Concluímos portanto, que as massas devem ser bem arejadas no início da fermentação para que as leveduras despertem mais rapidamente e se multipliquem à vontade. Mas logo que a fermentação esteja bem despertada o arejamento deve cessar, para que as leveduras vivam ao abrigo do ar e possam produzir álcool em grande quantidade.
Gás carbónico (C02)
Em quantidades e sob elevada pressão, especialmente, contraria o trabalho das leveduras. Nos espumantes naturais ele, em parte, serve-lhes de protecção contra possíveis fermentações do açúcar que em regra geral contém.
O álcool
Anti-séptico como é, exerce a sua influência no decorrer da fermentação, especialmente no final, pois desde que a graduação ultrapasse os 14° ela prossegue com dificuldade. Acima dos 16°, não sendo impossível, só em casos muito raros se verifica e daí o motivo por que os vinhos generosos e licorosos requerem como mínima tal graduação para os conservar ao abrigo de qualquer desdobro.
Nem todas as leveduras suportam a mesma percentagem de álcool no meio em que vivem; por isso umas iniciam a fermentação e outras a completam.
Os ácidos
Enquanto a acidez do meio permite a vida das leveduras ela é, pelo contrário, hostil ao desenvolvimento das bactérias - daqui concluímos que, se o mosto for bastante ácido, as leveduras desenvolvem-se livremente, ao passo que as bactérias ficam imobilizadas.
Gás sulfuroso (S02)
As leveduras podem viver em meios que contenham determinadas doses de gás sulfuroso, enquanto as bactérias com essas mesmas doses ficam sem acção ou são destruídas.
O emprego de gás sulfuroso é da maior vantagem em vinificação porque permite livrar, dentro de certos limites, as leveduras da concorrência das bactérias. Este gás tem por isso uma acção purificadora da maior importância. É um anti-séptico, como se pode ver que, sob a sua acção e em doses crescentes, vai desaparecendo a vida existente no mosto pela ordem seguinte:
- 1º Morrem as bactérias;
- 2º Morrem algumas leveduras (a apiculata, por exemplo);
- 3º Só em quantidade muito elevada o gás sulfuroso mata as leveduras elípticas.