Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal

de Ceferino Carrera


A poda


A poda é uma das operações culturais de que necessita a videira, consistindo no corte de certas varas, com o fim de melhorar as condições de produção da videira, harmonizando a parte aérea com a subterrânea (raízes).

A videira tem, dois períodos de vida: um que tem folhas, e outro de descanso em que não as tem. Se podarmos a videira, quando esta não tem folhas, fazemos uma poda de Inverno. Esta sofre menos do que se a podarmos quando está em actividade, isto é, quando tem folhas - poda em verde, pois, nessa ocasião perde folhas e portanto enfraquece porque lhe tiramos os órgãos elaboradores. Por este motivo as podas verdes devem reduzir-se ao mínimo.

É um hábito que infelizmente está muito generalizado, começar-se a poda logo a seguir à vindima. Nessa ocasião os pâmpanos não estão atempados, as folhas ainda estão a trabalhar, não se tendo dado a emigração das substâncias aproveitáveis para as varas e cepas. Assim, podando cedo, deitam-se fora os órgãos que estão ainda a trabalhar, perdendo-se as substâncias que estão nas suas folhas.

Deve pois esperar-se pelo completo descanso vegetativo, isto é, pela queda das folhas. Nesta quadra também não é indiferente podar mais cedo ou mais tarde. Assim, nas zonas de invernos muito rigorosos, não devemos podar por altura das geadas mais fortes, pois os cortes sofreriam com as geadas, cicatrizando pior.

Se as videiras não fossem podadas, quer no Inverno, quer no Outono, as suas varas cresceriam muito, ficando emaranhadas e muito finas, dariam cachos pequenos com bagos pequeníssimos, pouco sumarentos e amadurecendo irregularmente, conforme a sua situação. A produção seria muito irregular e os amanhos muito dificultados.

Com a poda, procuramos obter os seguintes fins:

  • 1 - Dar à videira uma forma tal que facilite os outros amanhos que esta precisa, tendo em atenção as condições de clima, terreno, etc., em que é cultivada.
  • 2 - Obter cachos maiores e com bagos mais sumarentos.
  • 3 - Conseguir uvas mais ricas em açúcar, que darão origem a vinhos mais graduados.
  • 4 - Regularizar a produção, evitando que a videira frutifique demasiadamente num ano e fique sem possibilidade de produzir no ano seguinte.

Resumidamente, podemos dizer que com a poda se procura melhorar as condições de produção, harmonizando-se a função vegetativa - produção de varas - com a função produtiva - produção de uvas.

Para se podar conscientemente é necessário:

  • 1 - Conhecer a videira, as suas diversas partes, especialmente os órgãos que podem frutificar e as características especiais de cada casta.
  • 2 - Saber a forma como se constituem e se renovam os seus órgãos e como se alimentam.
  • 3 - Prever a reacção que a videira terá aos cortes que se lhe fazem, tendo em atenção o clima, o terreno e o sistema de cultura.

A videira vive para a realização de duas grandes funções, a função vegetativa pela qual produz lenha, varas, folhas, etc., e a função reprodutiva pelas flores, uvas e grainhas.

Estas duas funções devem estar sempre bem relacionadas, servindo a poda para se fazer o seu equilíbrio. Podemos porém, com a poda, desiquilibrá-las. Assim, se podarmos exageradamente, obrigamos a videira a produzir mais madeira a fim de se refazer do que perdeu e, consequentemente, a produzir menos uvas.

Se lhe deixamos gomos de mais na poda, a videira esgota-se a dar uvas, fica sem possibilidades de produzir madeira, varas e no ano seguinte, não dará produção ou só muito reduzida.

A relação entre estas funções não é constante através da vida da videira. Quando é nova, procura constituir o mais rapidamente possível a sua estatura normal - domina a função vegetativa. Atingindo-a, equilibram-se as duas funções alcançando-se a plena produção. Vem depois a velhice. Nesta fase, a videira já produz pouca madeira e portanto a produção também vai diminuindo até se extinguir com a vida da planta.

Prática da poda

Os cortes devem ser sempre bem rentes, lisos e inclinados a fim de cicatrizarem convenientemente. Nas varas, os cortes devem fazer-se um centímetro acima do gomo. Os braços e os ramos mais grossos cortam-se com serrote, sendo depois o golpe alisado com uma navalha. As varas são cortadas com tesoura de poda, quer manual, quer eléctrica.

Deve ter-se o cuidado em fazer o menor número de cortes e que o diâmetro dos ramos cortados não seja muito grande, porque a cicatrização é tanto mais fácil, quanto menor for o diâmetro do ramo cortado.

O tecido que faz a cobertura do corte é o câmbio ou entrecasco. A cicatrização faz-se de fora para dentro, começando por formar-se o que se chama rebordo de cicatrização.

Para que se dê a cicatrização, é necessário, que o câmbio seja alimentado por seiva elaborada e como esta só desce, se o corte for feito alto, a cicatrização não se pode dar e inicia-se o apodrecimento da zona que fica por baixo do corte, comprometendo-se desta forma a vida da videira e, do toco que ficou, podem sair ladrões em quantidade.

Tipos de poda

A poda conforme o comprimento da vara que se deixa, ou antes segundo o número de olhos com que fica, toma designação diferente. Assim, se a vara ficar com muitos olhos, sete ou mais, o sarmento podado toma o nome de vara e a poda diz-se poda de vara ou poda longa; se o número de olhos é pequeno, de 1 a 4, o sarmento podado chama-se talão e a poda diz-se poda curta ou poda de talões; se a vara fica com 5 a 6 olhos diz-se vara mediana; se na poda se deixa vara e talão diz-se poda mista, sendo neste caso, o talão deixado atrás da vara, geralmente a 2 olhos, cujos lançamentos produzirão, no ano seguinte, a nova vara e talão.

Na vara atempada podemos considerar duas podas: Poda de formação e de frutificação, segundo se trata de dispor os braços da videira para se lhe dar uma determinada forma ou de preparar a planta para que frutifique convenientemente.

Poda de formação

No primeiro ano da videira não temos que atender à produção de frutos mas sim ao vigor a dar à planta para que ela emita lançamentos que lhe permitam tomar uma desejada forma segundo o sistema de poda a que de futuro será sujeita.

Na poda do primeiro ano apenas deixaremos ficar uma vara, a dois olhos, a qual deverá ser inferior. Dos dois olhos que nessa vara deixamos ficar nascerão duas varas que geralmente no ano seguinte já estarão suficientemente vigorosas para se lhes dar a forma de poda desejada; se porém a sua robustez ainda for pouca, deve ser novamente podada a dois olhos. Até esta altura e geralmente até aos terceiros anos a poda de frutificação, não principia a fazer-se, limitando-se apenas à preparação da cepa.

A poda de formação, tem por fim formar o esqueleto da videira, dando-lhe aos braços uma certa disposição, conforme o sistema a adoptar e que pode ser em cordão, em taça, em leque e mista.

Poda em cordão

Das mais adoptadas e a mais conveniente para cepas dispostas em arames que dão uma poda mais fácil. Facilita também muito os trabalhos culturais e tratamentos na vinha. Quando dispostos os alinhamentos na direcção Norte Sul, permite que os cachos sejam mais perfeitamente banhados pelo sol, vantagem a atender nas regiões não ardentes (climas mais frios).

A videira pode ser podada em cordão horizontal compreendendo uma parte vertical, o tronco, de que a certa altura parte um braço horizontal (cordão unilateral) ou dois opostos (cordão bilateral), ou mais do que um andar de braços (cordão sobrepostos).

Menos frequentemente a vara pode conservar-se aprumada (cordão vertical) ou obliqua (cordão oblíquo).

Poda em taça

Na poda em taça, os braços são divergentes dispostos regularmente e inclinados para fora, de maneira a ficar aberto, em forma de taça, interior da copa.

Este tipo de poda é usado nas videiras onde aconselhável a poda curta principalmente para as regiões de sol ardente.

Para se formar a poda em taça, no 2º ano, deixa-se na nova cepa 2 sarmentos que no ano seguinte são podados a dois talões, de dois olhos cada um, dos quais nascerão 4 sarmentos que no ano seguinte são podados a dois olhos cada, suprimindo algum que se desenvolva para o interior da taça. A taça é seguidamente podada todos os anos por forma idêntica.

Poda em leque

A educação da videira para a forma de leque é idêntica à empregada para a taça, com a diferença de se deixarem apenas, dois braços opostos, de cada um dos quais um outro no mesmo plano.

Poda mista ou de vara e talão

As podas dizem-se mistas quando na videira se deixam simultaneamente varas e talão. A vara de fruto será mais ou menos longa, e deixar-se-á um talão com dois ou três olhos que fornecerá na poda seguinte a futura vara de fruto e o polegar de substituição. A vara deixada na poda anterior é suprimida, tomando o seu lugar a produzida pelo olho superior do talão deixado.

Estas podas são por assim dizer podas de frutificação e de conservação da cepa, pois que provocam abundante frutificação na vara a esta destinada e fornecem vigorosas varas de substituição, sem esgotamento ou deformação da planta.

O podador deve ter em atenção a poda feita no ano anterior, que muito o poderá elucidar sob a forma de proceder, porque a forma de vegetação apresenta-lhe certos sinais que mostram se aquela havia sido excessiva ou se a videira ficou demasiado carregada.

Se a videira apresentar muitos olhos que não chegaram a ter rebentação, ou tiver produzido muitos pâmpanos enfezados, deve a causa disso estar no excesso de vara deixado e portanto, a poda deverá ser feita mais curta do que a anterior; se pelo contrário os rebentos produzidos se mostram demasiado vigorosos e alguns em duplicado no mesmo nó, é porque se havia deixado vara de menos, e dever-se-á, por conseguinte, fazer poda mais longa.

Depois de um ano de grande produção deve podar-se mais curto, e deixa-se menos vara no ano seguinte ao de pequena frutificação.

Não é fácil separar numa vinha, com alguns anos de existência, a poda de formação dada frutificação podendo-se dizer que, dada a forma à videira, a poda passa a ser de frutificação, atendendo-se a manter a forma dada.

Poda herbácea ou verde

A poda verde faz-se sobre as partes herbáceas e é portanto uma poda de Verão atingindo não só os sarmentos, como folhas, gavinhas e cachos.

Na poda verde pode incluir-se a despampa, a desponta, a supressão de gavinhas a desfolha e o desbaste ou monda de bagos.

Para conclusão, a poda é UMA ACTIVIDADE QUE É PRODUTO DA RAZÃO: Seja qual for o número de videiras, uma verdadeira poda exige que cada planta se ponha de acordo com as suas necessidades. Não existe (não deveria existir) uma poda estandardizada, mas sim uma poda que é produto do raciocínio, pensada para cada videira. Noutros termos, a poda é a actividade mais "inteligente" do ciclo de trabalhos vitícolas, na medida em que recorre aos sentidos da observação, da análise e da adaptação, componentes importantes da inteligência humana. Em séculos passados, quando os conhecimentos vitícolas eram unicamente empíricos e a sua difusão geográfica era reduzida por falta de meios de comunicação, conviviam sistemas de poda em grande número, testemunhos de uma adequação muito específica às distintas situações de vinhedos e cepas.

Se se pode conceber a poda desta forma, cada videira é, de certo modo, filha do seu viticultor, no sentido em que este lhe dá a forma que pretende ou que a planta requer. Realmente, uma boa educação não deverá adaptar-se à personalidade do sujeito, seja homem ou videira?

Não se deve esquecer, que os sarmentos secos, após a poda, que não tenham qualquer aproveitamento para outro fim vitícola, deverão ser queimados na própria vinha. Não devem permanecer no vinhedo, pois corre-se o risco de transmitirem vírus indesejáveis. O seu mais nobre aproveitamento consiste sem dúvida em utilizá-los para alimentar as brasas da cozinha local.

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