Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal
de Ceferino Carrera
DOC Setúbal
A região do Moscatel de Setúbal foi demarcada pela primeira vez, em 1907, por Decreto de 10 de Maio, posteriormente confirmado pelo Decreto de 1 de Outubro de 1908.
Seguindo-se os Decretos nº 23734, de 2 de Abril de 1934, os Regulamentos CEE nº 823/87 do Concelho, de 16 de Março, e 4252/88 do Concelho, de 21 se Dezembro, e os Decretos-Leis nº 326/88, de 23 de Setembro, 350/88, de 30 Setembro e Decreto-Lei nº 13 de 4 de Fevereiro de 1992 e Revogado pelo Decreto-Lei nº. 212/2004, de 23 de Agosto.
É confirmada como denominação de origem controlada (DOC) a denominação "Setúbal", a qual só poderá ser usada para a identificação de vinho licoroso.
A menção tradicional "vinho generoso" ou "generoso" só pode ser utilizada em associação à denominação de origem.
A área geográfica é constituída por:
Os municípios de Setúbal e Palmela.
Do município de Sesimbra parte da freguesia de Nossa Senhora do Castelo.
As vinhas devem estar instaladas em solos com as seguintes características:
Solos calcários pardos ou vermelhos
Solos mediterrâneos pardos ou vermelhos de arenitos, argilas e argilitos
Solos litólicos não húmicos de materiais arenáceos pouco consolidados
Solos podzolizados de areias e arenitos
Regossolos psamíticos
Nas parcelas que se destinam à produção dos vinhos de DOC Setúbal, as castas a utilizar são as seguintes:
Vinhos Brancos:
Castas Recomendadas: Moscatel Graúdo (Moscatel de Setúbal) com um mínimo de 67% do encepamento.
Casta Autorizadas: Fernão Pires, Arinto, Boal de Alicante, Olho de Lebre, Malvasia Fina, Rabo de Ovelha, Roupeiro, Tália, Tamarez e Vital, no conjunto ou separadamente, com um máximo de 33% do encepamento.
Vinhos Tintos:
Castas Recomendadas: Moscatel Galego Roxo (Moscatel Roxo), com um mínimo de 67% do encepamento.
Castas Autorizadas: Castelão Francês ou Periquita, Alfrocheiro, Bastardo, Espadeiro e Monvedro, no conjunto ou separadamente, com um máximo de 33% do encepamento.
Pequenos retalhos históricos desta Região
Setúbal é uma cidade da província da Estremadura, situada na margem direita do estuário do Sado, 40 km a Sul de Lisboa, com cerca de 100.000 habitantes. Com diocese, criada em 1975. Ocupada desde remota antiguidade, pela sua área passaram, sucessivamente, povos ibéricos, celtas, fenícios, romanos e árabes .Os romanos, que se terão fixado sobretudo na margem esquerda do Sado, deram-lhe o nome de Cetóbriga e desenvolveram a exploração de sal e a salga de peixe.
Os Árabes, povo profundamente ligado a agricultura, permaneceram alguns séculos na península do Tejo - Sado, dando grande incremento a vinicultura, apesar da sua religião não permitir o consumo de bebidas alcoólicas. Após a expulsão dos mouros, D. Sancho II repovoou-a, doando-a, em 1237, à Ordem de Santiago. A povoação recebeu foral em 1237, e rapidamente se transformou em importante porto do País. Daqui partiu a expedição que D. Afonso V enviou, em 1458, à conquista da praça marroquina de Alcácer Ceguer. Parcialmente destruída pelo terramoto de 1755, cresceu amplamente ao longo do século XIX, sendo elevada a cidade em 1860. Entre os diversos monumentos da cidade, contam-se o Castelo de São Filipe (século XVI) Convento de Jesus (século XV-XVI), onde funciona o Museu Municipal, bem como as igrejas de Santa Maria (século XIII) e de São Julião e o Convento dos Cartuxos. Possui estaleiros navais e indústria de papel, de cimento e de adubos, bem como montagem de automóveis. É porto de pesca e comercial.
Com a fundação do reino de Portugal vieram, entre outros povos, os Francos, povo de antiquíssimas tradições vitícolas. Em 1331, Portugal exporta vinhos para a Inglaterra e Ricardo II, reinando nesta época, menciona a importação de vinho da vila de Setúbal. Em 1675 exportam-se 350 barricas de Moscatel de Setúbal. Em 1868, num estudo ampelográfico feito na região de Azeitão foram descritos 19 castas de uvas brancas as castas de uvas tintas para a produção de vinho. Ferreira Lapa, em 9 de Setembro de 1875, na sua 6º Conferencia sobre vinhos, ao concluir o estudo sobre a Estremadura, refere: «A notável e importante comarca vinhateira de Setúbal, a região privilegiada do Moscatel, com reputação no mundo e nome feito em Portugal, onde bem poucos nomes se fazem.»
A península de Setúbal é, pois, uma região pioneira na elaboração de produtos vinícolas de reconhecida qualidade, como é o caso do Moscatel de Setúbal.
O clima é mediterrânico, ou seja, quente no Verão e temperado no Inverno.
As designações tradicionais "Moscatel de Setúbal" ou "Roxo" só podem ser usadas quando estas castas contribuam com, pelo menos, 85% do mosto utilizado.
Os vinhos "Moscatel de Setúbal" devem provir de vinhas com um mínimo de quatro anos de enxertia, estremes, em forma baixa, conduzidas em taça ou cordão, com poda em vara e talão ou só em talão.
O rendimento base, por hectare, das vinhas destinadas aos vinhos de denominação de origem é fixado em 70 hl.
Moscatel de Setúbal - Derivada da Vitisapiana, sinónimo do moscatel de Alexandria, do Moscatel de Jesus, do Moscatel de Málaga e do Moscatel Romano, o Moscatel Roxo, sinónimo da Violeta da Madeira ou Moscatel Tinta da Madeira e do Moscatel Roxo de Constança, de origem portuguesa: finalmente, o Moscatel do Douro menos expandido e mais recentemente conhecido na região que é sinónimo do moscatel de Frontignan. A vinificação é feita de bica-aberta.
Os mostos sofrem uma ligeira fermentação, maior ou menor, consoante a quantidade de açúcar que se pretende guardar no vinho a elaborar.
Atingido o grau requerido, é feita a paralisação da fermentação com a adição de aguardente ou álcool vínicos que apresentem um título alcoométrico volúmico compreendido entre 58% e 77%, e não inferior a 96%, respectivamente, segundo o uso regional.
Paralisada a fermentação, adiciona-se ao vinho determinada quantidade de películas de uvas moscatel, frescas e espremidas, que permanece em maceração até ao princípio do Inverno, comunicando-lhe desta forma grande parte da sua frescura e aroma próprio.
No Inverno seguinte, procede-se a primeira trasfega, tendo lugar a segunda, no fim da Primavera, momento em que se procede a unificação e correcção dos tipos da colheita. Terminado assim a elaboração, passa o vinho para os cascos ou pipas, de preferência de carvalho, onde envelhece naturalmente durante anos, em locais com temperatura apropriada.
O título alcoométrico volúmico adquirido compreendido entre 16,5% e 22% em volume.
A acidez volátil com valores máximos de 1,2g/l para vinhos iguais ou inferiores a 10 anos e de 1,5 g/l para vinhos com mais de 10 anos, ambos expressos em ácido acético, sendo admitida uma tolerância de 15% nestes limites para vinhos não engarrafados em armazém.
Os açúcares redutores, expressos em açúcar invertido, e em valores máximos de 200 g/l para vinhos com 20 anos e inferiores a 280 g/l, para vinhos com mais de 20 anos.
Pode ser usada, como designativo complementar de qualidade dos vinhos de denominação de origem controlada “Setúbal” a menção «Superior», quando os vinhos se destaquem pela sua qualidade em prova efectuada aos 2 anos de idade e obtenham confirmação em nova prova aos 5 anos de idade, até escoamento das produções existentes, e mediante controlo da CVRPS, são permitidas as indicações «10 anos de idade» ou «20 anos de idade» desde que os vinhos em causa tenham, no mínimo, as idades indicadas.
Os vinhos que constituem objecto deste regulamento, só podem ser engarrafados após um estágio mínimo de 24 meses.
Existe uma firma na zona de Azeitão (JMF), que é um verdadeiro «santuário» deste nobre vinho, onde se poderá apreciar a colecção rara de vinhos moscatéis em meias pipas de carvalho, mais de 77 colheitas do século XX e ainda a de 1880, onde existem ainda vinhos mais velhos, verdadeiras relíquias, esses que viajavam pelo mundo, conhecidos por torna-viagem e de idade desconhecida.
O vinho generoso produzido desta região pode ser branco ou roxo.
É dos vinhos mais licorosos, mais doces-encorpados, mas elegante ao mesmo tempo, com um bouquet como não se encontra facilmente noutro vinho do mesmo tipo.