Cerca de três centenas de viticultores do concelho de Alijó reivindicaram, este domingo, mais ajudas para a Região Demarcada do Douro, no geral, e, em particular, para a sua adega cooperativa que está afogada em dívidas. A atividade principal da região, a produção de vinho, atravessa uma crise sem precedentes e está a deixar os lavradores na miséria.
A manifestação de protesto realizou-se após uma assembleia geral extraordinária em que foi eleita uma nova direção para a Adega Cooperativa de Alijó, instituição com cerca de 2000 associados a quem deve entre duas a quatro colheitas. O leme foi assumido Anabela Pinto Coelho, de 29 anos, engenheira agrónoma e também viticultora.
Anabela aceitou o "grade desafio" de liderar a adega durante o próximo ano e meio, até completar o triénio iniciado pela anterior direção, porque também ela é viticultura e sente na pele o que "custa chegar ao final do ano e não receber pelas uvas entregues na cooperativa". Aos restantes sócios deixou a promessa de "continuar o trabalho para tentar aliviar a situação financeira da instituição".
"A manifestação de hoje representa, em primeiro lugar, um grito de revolta contra a situação que se vive na vitivinicultura duriense", sublinhou o presidente da Câmara de Alijó, Artur Cascarejo. Juntamente com vereadores, inclusive da oposição, direção anterior e a recém-eleita, encabeçou a marcha, segurando uma tarja "em defesa da nossa adega cooperativa", que terminou com uma volta à rotunda do Homem do Douro, que simbolizou "um abraço a todos os viticultores durienses".
"De há 10 anos a esta parte a vitivinicultura duriense tem vindo a perder valor e volume", sublinhou ainda o edil, esclarecendo que a Comunidade Intermunicipal do Douro, que reúne 19 Municípios, adegas cooperativas da região demarcada e Governo, "estão a tentar encontrar soluções para este problema".
Durante o percurso feito em silêncio pararam junto à agência local Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde gritaram: "Apoio à produção, sim; apoio à especulação, não!" A Adega Cooperativa de Alijó acusa a CGD de não apoiar a reestruturação da dívida de sete milhões de euros a viticultores, fornecedores, banca e Estado. À porta da instituição foi mesmo colocada uma tarja que rezava: "Para os Berardos jogarem na bolsa: Milhões. Para a gatunice do BPN: Milhares de milhões. Para a Adega de Alijó: Morte lenta... É este o nosso banco???".
Pedro Sousa, o presidente da direção cessante, explicou que "grande parte das instituições bancárias aceitou juntar-se num sindicato bancário" que permitiria a reestruturação da dívida. "Quando chegámos à CGD apenas ouvimos: "Ou começam a pagar ou não há reestruturação para ninguém!"".
Pedro Sousa acalenta ainda a esperança de que o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, ajude a desbloquear a situação, caso contrário, a situação será "muito mais complicada para a adega de Alijó".
in JN - Publicado em 2012-04-22 Eduardo Pinto.
2012.04.26
Jornal de Notícias