Monção: Dezenas de pessoas no último adeus à 'Senhora da Brejoeira' .
Várias dezenas de pessoas compareceram esta quinta-feira na Igreja Paroquial de Pinheiros, em Monção, para um último adeus a Hermínia D' Oliveira Paes, proprietária do Palácio da Brejoeira. Também cidadã de mérito da vila - medalha de prata, Hermínia Paes faleceu ontem, aos 97 anos de idade.
As cerimónias fúnebres contaram com a presença de diversas individualidades, entre elas José Emílio Moreira, grão-mestre da Confraria do Alvarinho e antigo presidente da Câmara de Monção. "Assim como Dnª. Antónia Ferreira esteve para o vinho do Porto, Dnª. Hermínia Paes esteve para o vinho Alvarinho", disse o ex-autarca em declarações à rádio Vale do Minho. "Sempre vi nela uma pessoa com uma visão extraordinária sobre a qualidade e imagem do vinho como produto cultural, económico e capaz de catapultar uma terra para outros níveis de desenvolvimento", salientou José Emílio Moreira.
Também o atual presidente da Câmara de Monção mostrou profunda tristeza com a morte de Hermínia Paes. "Uma senhora notável, com a força de empresária e a sensibilidade de artista, que vai deixar saudades a todos que tiveram o privilégio de conviver com ela como eu", disse Augusto Domingues.
A partida da 'Senhora da Brejoeira' causou também ambiente de consternação no concelho vizinho de Melgaço. À rádio Vale do Minho, o autarca Manoel Batista considerou que "o trabalho feito por Hermínia D' Oliveira Paes marcou e vai continuar a marcar toda a história da Sub-Região de Monção e Melgaço". O edil melgancense não tem, por isso, quaisquer dúvidas de que o legado deixado pela cidadã de mérito monçanense será sempre "uma referência e um desafio. A história não existe para nos fixarmos nela mas para ser uma base para o futuro. O trabalho feito por Hermínia D' Oliveira Paes é um desafio aos novos produtores para que saibam trilhar novos caminhos e descobrir a excelência e fazer vinhos de ainda melhor qualidade do que aqueles que já temos - se é que isso é possível".
O presidente da Associação de Produtores de Alvarinho (APA) mostrou-se também desolado com esta perda. Miguel Queimado considera que Hermínia D' Oliveira Paes foi "uma grande pioneira na nossa sub-região [Monção e Melgaço] quer na viticultura, quer no negócio do vinho, quer no posicionamento dos nossos produtos".
Já sobre a possibilidade de homenagear Hermínia D' Oliveira Paes com uma colheita especial de Alvarinho, Miguel Queimado acredita que a ideia é viável. No entanto, para o presidente da APA, "não há maior homenagem do que um trabalho conjunto de todos os produtores na promoção do nosso território. Com uma visão comum e estrategicamente diferenciadora".
Uma vida dedicada ao Alvarinho
Sócia-fundadora da Associação de Produtores e Engarrafadores de Vinho Verde, sócia-fundadora da Confraria do Vinho Verde, sócia-fundadora da Real Confraria de Vinho Alvarinho, grã-mestre da Confraria de Vinho Verde entre 1989 e 1995, Hermínia D' Oliveira Paes foi a responsável, na primeira metade da década de 60, pela reestruturação da propriedade e plantação das vinhas de Alvarinho após estudo pormenorizado elaborado pelo engenheiro agrónomo João de Vasconcelos, diretor do posto agrário de Braga. Mais tarde, quando as cepas produziam uvas de grande qualidade, procedeu-se à construção de uma adega maior e instalação de novo equipamento, iniciando-se a produção de vinho Alvarinho com supervisão do enólogo Amândio Galhano, a par de Hermínia D' Oliveira Paes um grande mentor e entusiasta do Alvarinho Palácio da Brejoeira.
Classificado como Património Nacional desde 1910, o Palácio da Brejoeira, grandiosa construção em estilo neo-clássico, dos princípios do século XIX, foi adquirido em finais da década de 1930 pelo pai de Hermínia D' Oliveira Paes, Francisco D' Oliveira Paes. Trata-se de um conjunto extraordinário " palácio, capela, bosque, jardins, vinhas e adega antiga " que seduz e encanta pela harmonia que emana. Com extensão de 30 hectares, em 18 cultiva-se, com esmero, vinho Alvarinho.
Hermínia D' Oliveira Paes faleceu com quase 100 anos vividos. Foi sepultada no Cemitério da freguesia de Pinheiros, em Monção.
2015.12.31
Rádio Vale do Minho