Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal

de Ceferino Carrera


DOC Bairrada


Legislação Base

A Bairrada foi demarcada pela Portaria nº 709-A/79, de 28 de Dezembro.

No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pela lei quadro das regiões demarcadas vitivinícolas, Lei nº 8/85, de 4 de Junho, o Estatuto da Denominação de Origem Controlada da Bairrada foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 70/91, de 8 de Fevereiro, e veio a ser posteriormente actualizado através do Decreto-Lei nº 72/98, de 26 de Março.

Em 1999 foi instituída a nova Organização Comum do Mercado Vitivinícola, aprovada pelo Regulamento (CE) nº 1493/99, do Conselho, de 17 de Maio, que estabelece, nomeadamente, que os Estados membros devem proceder à classificação das castas aptas à produção de vinho, devendo igualmente indicar as castas destinadas à produção de cada um dos vinhos de qualidade produzido em região determinada.

Em consequência, através da Portaria nº 428/2000, de 17 de Julho, foram fixadas as castas aptas à produção de vinho em Portugal e a respectiva nomenclatura.

Portaria N.º 213/2000, de 8 de Abril e Decreto-Lei Nº 301/2003, de 4 de Dezembro.

A denominação de origem controlada da Bairrada abrange:

  • - Todas as freguesias dos concelhos de Anadia, Mealhada e Oliveira do Bairro.
  • - As freguesias de Aguada de Baixo, Aguada de Cima, Águeda, Barro, Belazaimedo do Chão, Borralha,, Espinhel, Fermentelos, Oís da Ribeira, Recardães e Valongo do Vouga, do concelho de Águeda.
  • - A freguesia de Nariz, do concelho de Aveiro.
  • - As freguesias de Ança, Bolho, Cadima, Cantanhede, Cordinhã,Corticeiro de Cima, Covões, Febres, Murtede, Ourentã, Outil, Pocariça, Portunhos, Sepins, Sanguinheira, São Caetano e Vilamar do concelho de Cantanhede.
  • - As freguesias de Souselas, Trouxemil,Torre de Vilela, Vil de Matos e Botão do concelho de Coimbra.
  • - As freguesias de Covão de Lobo,Ouça, Santa Catarina e Sosa do concelho de Vagos.

Sub-regiões produtoras

Por portaria do M.A.D.R. e P., podem ser reconhecidas sub-regiões no interior da região vitivinícola sempre que se justifiquem designações próprias em face das particularidades das respectivas áreas e a utilizar em complemento à Denominação de Origem "Bairrada".

Solos

As vinhas destinadas à produção dos vinhos e produtos vitivinícolas DOC Bairrada devem estar, ou ser instaladas, em solos com as características a seguir indicadas, em solos com as características:

  • a) Solos calcários pardos ou vermelhos.
  • b) Solos litólicos húmicos ou não húmicos.
  • c) Podzóis de materiais arenáceos pouco consolidados.

Práticas culturais

As vinhas destinadas à elaboração dos vinhos e dos produtos vitivinícolas com direito à DOC Bairrada devem ser conduzidas em cordão ou em forma semi-livre e a densidade de plantação deve ser superior a 3000 plantas/ha.

A rega da vinha só pode ser efectuada em condições excepcionais, reconhecidas pelo IVV, e mediante autorização prévia, caso a caso, da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), à qual incumbe zelar pelo cumprimento das normas que para o efeito vierem a ser definidas.

Castas recomendadas para vinhos tintos e rosados

Alfrocheiro (1), Aragonêz (Tinta Roriz), Baga (1), Bastardo, Cabernet Sauvignon, Camarate (1), Castelão (Periquita), Jaen (1), Merlot, Pinot Noir, Rufete, Syrah, Tinta Barroca, Tinto Cão, Touriga Franca e Touriga Nacional (1).

(1) Castas a utilizar na elaboração do vinho tinto com direito à menção "Clássico". Estas castas devem representar no conjunto ou separadamente no mínimo 85% do encepamento, não podendo porém a casta Baga representar menos de 50%.

Castas Brancas

Arinto (Pedernã), Bical, Cercial, Chardonnay, Fernão Pires (Maria Gomes), Pinot Blanc, Rabo de Ovelha, Sauvignon, Sercialinho e Verdelho.

Denominações Protegidas

É confirmada como denominação de origem controlada (DOC) a denominação "Bairrada" para a produção de vinhos a integrar na categoria do vinho de qualidade produzido em região determinada (VQPRD), de que podem usufruir os vinhos brancos, rosados e tintos, de vinhos espumantes de qualidade produzidos em região determinada (VEQPRD) e de aguardentes bagaceiras, produzidos na respectiva área delimitada.

Para os vinhos tintos DOC Bairrada pode ser utilizada em associação com a denominação "Bairrada" a menção "Clássico", desde que a sua produção, elaboração e engarrafamento satisfaçam, para além da demais legislação aplicável; nomeadamente no que respeite às castas utilizadas e ao título alcoométrico.

As vinhas devem ser estremes, conduzidas em cordão, com poda em vara e talão, com uma carga máxima de 50 000 gomos por hectare, não devendo a densidade de plantação por hectare ser inferior a 3000 plantas.

Os vinhos devem provir de vinhas com, pelo menos, quatro anos de enxertia e a sua elaboração deverá decorrer dentro da zona respectiva, em adegas inscritas e aprovadas para o efeito, que ficarão sob o controlo da CVRB. O método tecnológico a utilizar na preparação dos vinhos espumantes naturais com denominação de origem Bairrada será o método de fermentação clássica em garrafa.

Os vinhos - base para espumante e os rosados ou rosés devem ser elaborados segundo o processo denominado de bica-aberta ou seja por vinificação de mosto de uvas frescas, obtido por prensagem directa, esgotamento e prensagem, ou ainda por um processo de maceração muito breve.

A produção máxima por hectare para vinhos tintos será de 55 hl; para vinhos brancos, espumantes naturais e rosados ou rosés é de 70 hl.

Degustação analítica

A Cor

A cor dos vinhos brancos da Bairrada varia em função do tipo de vinificação a que são submetidos, tal como acontece com os vinhos brancos de outras regiões. Os vinhos elaborados em depósitos de aço inoxidável, com controlo de temperatura de fermentação, tendem a ter a cor um pouco mais aberta, de um citrino-pálido. A cor citrina passa a amarelo-palha se o vinho for fermentado com algum contacto peculiar (o mosto em conjunto com as películas da uva). A fermentação em madeira nova origina igualmente uma cor mais intensa que o normal.

Os Aromas

A gama aromática dos vinhos brancos bairradinos varia muito consoante as castas que estiveram na sua origem e o tipo de vinificação. Normalmente, estes vinhos apresentam frutos muito frescos no aroma, lembrando melão ou ananás.

A casta Maria Gomes proporciona algumas nuances florais, enquanto a presença da Arinto é notada por um toque a lima e citrinos. Quando fermentados em madeira nova, esta marcam logicamente a sua comparência.

O Sabor

Geralmente bem estruturados e com uma boa acidez, que lhes garante alguma longevidade, os brancos da Bairrada são vinhos consistentes, reflectindo-se no sabor as mesmas sensações obtidas no aroma. Os raros vinhos brancos que admitem algum envelhecimento ganham aí complexidade e outras nuances gustativas, surgindo então os frutos secos e o mel.

Bairrada Tinto

O vinho tinto da Bairrada apresenta-se, de um modo geral, de aspecto límpido, de cor rubi semi encorpado, bem equilibrado, por vezes ligeiramente nervosos quando jovens. Ao tratar-se de um Reserva ou Garrafeira a cor é de um granada profundo com um "bouquet" maravilhoso; aveludado, generoso, possuindo um sabor delicado e suave, bem como uma finura excelente. De muito longa conservação, pode preservar todas as suas qualidades ao fim de 20 anos de engarrafamento.

Bairrada Rosado

A cor vai do alaranjado ao avermelhado. De aroma frutado, revelando as castas donde provêm, notando-se em particular a tipicidade da casta Baga. A acidez é moderadamente elevada, deixando grande frescura na boca.

Espumante

Produzidos pelo método clássico ou de fermentação em garrafa poderão ser, quanto ao grau de doçura, Bruto Natural, Brutos, Secos ou Meio-seco, pertencendo a sua maioria à classe Bruto. Os mais jovens apresentam aromas florais ou frutados, enquanto os mais velhos denotam aromas provenientes do contacto mais ou menos prolongado com as borras da segunda fermentação.

Uma pequena resenha do Espumante, quanto a sua Prova Organoléptica

A Cor

A cor dos Espumantes varia conforme a sua origem de proveniência, as castas utilizada e o tempo de estágio. Podemos encontrar cores que vão do citrino ao dourado profundo, mas também as tonalidades variadas dos vinhos rosados ou as tonalidades pardas de espumantes que utilizam castas tintas na sua elaboração, ou ainda, embora mais raramente, a cor do vinho tinto quando se espumantizou um vinho que fermentou em contacto com as películas.

Os Aromas

Por norma, os bons espumantes são elegantes e complexos, que lembram uma bela acidez frutada, frutos variados que vão da maçã e da pêra ao morango, à cereja e à framboesa. O pão torrado e o pão-de-ló são também habituais. Os frutos secos, embora presentes em grande parte dos espumantes relativamente novos, acentuando-se mais com a idade.

O Sabor

Os melhores exemplares são requintados e, além de impetuosos, oferecem elegância e um charme muito especial, com uma acidez bem presente, mas pouco agressiva, que os torna delicados e frescos.

Os vinhos a comercializar com denominação de origem só podem ser engarrafados com o estágio mínimo a contar da data de elaboração de 18 meses para os vinhos tintos, não considerando qualquer estágio para os vinhos brancos e rosés. O estágio de vinhos tintos deverá decorrer nas próprias adegas de vinificação ou em instalações dos armazenistas exportadores, nos termos a definir pela citada entidade.

Os vinhos espumantes só podem ser comercializados depois de 9 meses após a data de enchimento.

Os vinhos de denominação de origem devem apresentar um título alcoométrico volúmico adquirido de 11% vol, para vinhos brancos, tintos e rosados.

Vinho tinto com direito à menção "Clássico" deverá ser de 12,5% vol.

Vinho espumante é de 11% vol.

No que concerne ao grau de doçura dos vinhos espumantes, só podem ser utilizadas as indicações tradicionais "bruto natural", "bruto", "seco" e "meio seco".

O título alcoométrico volúmico mínimo da aguardente bagaceira DOC Bairrada é de 40% vol., não podendo o teor de metanol ser superior a 400 g/hl de álcool absoluto.

O clima desta região é caracterizado como mediterrânico atlântico, com uma queda pluviométrica média anual entre 900/1000 mm.

As castas brancas são vinificadas de bica-aberta e as fermentações realizam-se abaixas temperaturas. Quanto às tintas são vinificadas de curtimenta com separação dos engaços.

Só podem ser utilizadas garrafas com capacidade igual ou inferior a 2 litros, admitindo-se exclusivamente para efeitos de publicidade, e após a análise casuística, a autorização de capacidade superior.

Dados históricos

A Bairrada é uma região antiquíssima e já no tempo da ocupação romana a região era habitada, passando nela a via militar Emília a Cale, segundo documentos históricos, é muito antiga a existência de vinhos na Bairrada, pois já no século X e XI aparecem referências às vinhas de Ventosa, Portunhos, Anção, etc.

No livro dos testamentos de Lorvão vem a noticia de no ano 950 ser doada ao mosteiro de Lorvão uma vinha na Silvã, no concelho da Mealhada. A tradição e a fama dos vinhos da Bairrada remontam ao início da fundação do País, pois, segundo documentação existente, refere-se que D. Afonso Henriques autorizou a plantação da vinha na região, com a condição de lhe ser dada uma quarta parte do vinho produzido.

Mais tarde, no reinado de D. Manuel, todos os forais referentes à povoação da Bairrada falam dos seus vinhedos. Em 1599, Duarte Nunes de Leão fez referências à qualidade dos vinhos de Cantanhede; no século XVIII, o padre Carvalho da Costa destaca a boa qualidade dos vinhos da Mealhada e Anadia.

Ao longo dos anos, a viticultura torna-se florescente na região, mas o Marquês de Pombal condiciona a sua cultura ordenando mesmo o arranque da maior parte das vinhas, o que provocou grave golpe na viticultura da Bairrada. Somente no reinado de D. Maria I, foi levantado o condicionamento da cultura da vinha, atingindo nesta época a viticultura regional destacada projecção e dando-se início ao comércio dos vinhos, exportando-se grandes quantidades, através do porto da Figueira da Foz, para os mercados do Brasil, América do Norte, França e Inglaterra.

Novamente a viticultura se recompõe graças à competência profissional e poder de criação dos seus viticultores e agrónomos que conseguem vencer a crise, dando à viticultura Bairradina grande projecção, sendo de destacar a acção do engenheiro Tavares da Silva que, na estação vitivinícola de Anadia, iniciou no final do século XIX o fabrico dos espumantes naturais, que grande influência vieram a ter no prestígio e na economia regional.

A Bairrada é de longa data conhecida como produtora de vinhos de qualidade, foi considerada como produtora de vinhos regionais por diplomas publicados em 1907-1908 e, finalmente, em finais de 1979 foi-lhe reconhecida, a designação de Bairrada.

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