José Valença, da Universidade do Minho, foi um dos responsáveis pela entrada de Portugal na "web".
1985. Largo de Santa Cruz, em Braga. Após algumas experiências prévias, docentes da Universidade do Minho conseguem estabelecer uma ligação IP com o University of Manchester Institute of Science of Technology. Foi a primeira ligação à Internet em Portugal e o primeiro passo para a entrada do país num novo mundo de possibilidades que hoje, passados quase 27 anos, domina a vida diária na grande maioria da sociedade ocidental.
Se hoje em dia o acesso à Internet se tornou quase uma exigência, um serviço acessível a qualquer cidadão, na sua génese ela surgiu, acima de tudo, como um meio de comunicação entre comunidades científicas separadas pela sua geografia. "A Arpanet, que antecedeu a Internet e onde foram introduzidas muitas das tecnologias que hoje nos são familiares, foi, antes de mais, uma rede entre comunidades científicas que desenvolviam projectos com necessidades específicas de partilha de recursos", aponta José Valença, docente do departamento de Informática da Universidade do Minho e um dos responsáveis por colocar Portugal "online', estando também envolvido na criação da primeira" homepage' portuguesa, em 1991. "Quando a Internet "furou" o Muro de Berlim, em meados dos anos 80 e bastantes anos antes da sua queda, foi como consequência das ligações entre comunidades científicas de países da Europa Central de um e de outro lado do Muro", refere o professor.
Quando recorda os primeiros anos de descoberta da Internet, José Valença recorda como a experiência portuguesa foi semelhante à dos países do Leste Europeu, com os quais foi estabelecendo ligações. "Em Portugal, tentávamos escapar aos anos sucessivos de estagnação social a que o nosso atraso científico e tecnológico nos tinha conduzido. No Leste, estava-se a tentar fugir às pesadas barreiras que os últimos estertores da Guerra Fria tinham lançado sobre a Europa". O docente defende que este começo pode estar na origem da liberdade quase "anárquica" que a Internet exige.
"Numa e noutra situação, as redes eram vistas como uma espécie de "arma secreta" que, por serem em grande medida desconhecidas dos poderes estabelecidos, fugiam ao seu controlo e poderiam eventualmente conduzir a novas soluções para problemas antigos", explica.
In DE - http://economico.sapo.pt - 2012-03-04
2012.03.04
Pedro Quedas - DN