1835 - 1905
1º Visconde de Chanceleiros, Sebastião José de Carvalho, Homem de grande talento e elevadas qualidades morais, faleceu há quase 100 anos; no entanto, a sua vida e obra são, ainda hoje, referências obrigatórias nos anais da viticultura nacional, e o seu nome e memória são recordados com respeito e veneração, nas terras onde viveu.
Nasceu a onze de Janeiro de 1835 em Cortegana, concelho de Alenquer, na Quinta do Rocio, propriedade de seus pais, Manuel António de Carvalho e Dona Maria José Carvalhosa Henriques.
Iniciou os seus estudos em Lisboa, partindo anos depois para Coimbra, onde se formou com o grau de bacharel na Faculdade de Direito. Seguindo as pisadas de seu pai na vida pública, é eleito deputado pelo círculo de Torres Vedras, com vinte e quatro anos de idade.
Começava assim uma longa e brilhante carreira política: Par do Reino, Governador civil de Lisboa, Ministro das Obras Públicas e Ministro Plenipotenciário de Portugal na Bélgica.
Em 1865, o Rei D. Luís concedeu-lhe o título de Visconde. O Brasil e a Bélgica atríbuem-lhe honrarias e condecorações. Como estadista, a sua honestidade e inteireza de carácter constituíram um exemplo ímpar no seu tempo: o apreço por estes predicados tão raros ganhou dimensão nacional, e sobre ele se escreveu na época: " ....o Visconde de Chanceleiros, tem o culto respeitosíssimo de todo o país, que se vê encarnadas na pessoa do prestimoso titular, as mais puras qualidades e os mais nobres sentimentos de um português de boa lei".
Como orador, teve este homem um grande sucesso. Segundo os contemporâneos, as suas palavras entusiasmavam e arrebatavam, merecê de uma grande espontaneidade e colorido. Tais qualidades trouxeram-lhe grande prestígio e inúmeros triunfos parlamentares.
Um comentador político do seu tempo escrevia assim a propósito das suas intervebções na Câmara dos Pares do Reino".... ouvir o Senhor Visconde é experimentar uma sensação que mal se pode definir. Ora nos arrasta, ora nos deslumbra,,ora nos provoca frémitos de indignação ou de entusiasmo; enleia-nos sempre e domina-nos por completo; fica assim um auditório de centenas de pessoas, inteiramente cativo e avassalado pela sua priveligiada inspiração."
Já quase no fim da sua actividade política, ficaram celebrizados nos registos parlamentares, os seus discursos de 30 e 31 de Dezembro de 1893.
Mas, este apreciado estadista e notável tribuno, nunca deixou adormecer dentro de si os apelos do homem nascido no campo, e sempre que a sua vida pública lhe permita, regressava ao seu retiro, à sua querida Quinta do Rocio e às suas tarefas de agricultor esclarecido e empreendedor; também neste domínio foi notável na sua obra.
Ter sido "nado e criado" no fecundo concelho de Alenquer, "terra de vinhedos e vinhos" na feliz expressão do seu amigo e admirador o médico e cientista Rodrigo de Boaventura Pereira, explica o facto do Visconde de Chanceleiros ser também um grande viticultor do seu tempo. Mercê de técnicas agrícolas muito apuradas e de granjeios cuidadosos, as suas propriedades eram exemplo e modelo de produtividade; as suas opulentas vinhas eram, com frequência, visitadas e admiradas por personalidades notáveis ligadas à viticultura portuguesa e estrangeira.
No entanto, tempos muito difíceis esperavam estes vinhedos florescentes e férteis.
De facto, desde 1870 que uma nova e perigosa doença, a filoxera, devastava as vinhas portuguesas.
Primeiro no norte, na zona duriense e depois numa destrutiva marcha galopante para o sul, até ocupar toda a área nacional.
Em terras de Alenquer, as primeiras nódoas desta grave moléstia surgem no Verão de 1882.
Em quatro anos a terrível praga estende-se por quase todos os campos concelhios.
A grande agressividade da filoxera e a pouca eficácia dos processos de combates usados, levam muitos dos proprietários da região ao desespero e à ruína; "....as dificuldades da luta, a descrença, o terror mesmo, conduzem os viticultores à desconfiança e ao desalento....", escreve um jornalista a propósito desta crise.
É neste clima de catástrofe, que a personalidade forte de Sebastião José de Carvalho se eleva e agiganta. Afirma um agricultor do seu tempo: "No meio deste desânimo geral um homem corajoso: o Visconde de Chanceleiros. Ele tem sido um lutador estreme, sempre alerta na refrega do combate....".
Com as suas vinhas profundamente atingidas pela filoxera, recorre aos limitados meios que a ciência lhe oferece.
Experimenta os tratamentos químicos com a exactidão e os cuidados exigidos. Introduz mesmo algumas alterações técnicas, ditadas pelo seu bom senso de velho agricultor.
Lamentavelmente os resultados não são animadores.
A produção das vinhas baixa dramaticamente, "passando das 5.000 pipas anuais para as 2.000 e depois para as 100 nos últimos anos da sua vida"
Não se poupando nem a trabalhos nem a despesas, tenta ainda outras soluções. Assim, no Inverno de 1887 submerge as suas vinhas de várzea "com as águas dos regatos que lhe corriam próximo".
No ano seguinte, estas cepas já apresentavam "boa frutificação sem que as raízes estivessem infestadas de filoxera"..."
Os resultados agora mais animadores, não são ainda os desejados.
Havia que lançar-se mão da última esperança, havia que percorrer o último caminho, o mais difícil, o mais discutível e o mais dispendioso: o replantar as depauperadas vinhas com bacelos americanos.
O espanto que tal iniciativa produziu foi enorme. " A atitude do Visconde de Chanceleiros foi classificada de arrojo sem limites, e todos viram nela um completo desastre".
Nada, nem ninguém desvia Chanceleiros deste percurso.
Reconstitui as suas vinhas e espera pelos resultados....
Finalmente, ao cabo de tantos esforços, tudo indica que o flagelo da filoxera está debelado.
O exemplo foi então seguido por todos os agricultores.
Sebastião José de Carvalho que se arruinara nesta luta sem quartel, tornara-se um benemérito. "O país devia-lhe a salvação da sua principal riqueza".
Em 1895 foi convidado pela Real Associação Central da Agricultura Portuguesa, para participar no Primeiro Congresso Vitícola Nacional.
As notáveis comunicações que então apresentou, merecem o aplauso de todos os congressistas, e justificam a sua nomeação para Presidente Honorário do Congresso.
O Visconde de Chanceleiros recebia assim das mãos dos viticultores portuguesas, uma honrosa distinção.
Anos depois, em Dezembro de 1904, a Câmara Municipal de Alenquer inaugurou em sessão solena, o retrato deste ilustre cidadão, "oferecido por um grupo de amigos".
Era esta, a derradeira homenagem prestada em vida a um homem " que empobreceu salvando as suas vinhas", encorajando com o seu exemplo os agricultores portugueses, a replantarem os seus vinhedos destruídos pela filoxera.
Poucos meses depois, a 14 de Junho de 1905, na sua Quinta do Rocio, morria tranquilamente o Visconde de Chanceleiros; tinha setenta anos de idade.
03 de Novembro de 1993, Adega Cooperativa de Labrugeira, CRL.
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