In addition to wine

A Tanoaria em Portugal in "Ovar Virtual"

0001 - 2003

A indústria da tanoaria é por nós considerada como das menos conhecidas, dentro do tão vasto sector da madeira.
A razão pelo seu destaque deve-se ao facto desta ser representada quase exclusivamente pelo distrito de Aveiro, nomeadamente pelas freguesias de Esmoriz, Cortegaça, Maceda e Ovar do concelho de Ovar e Paramos do concelho de Espinho.
Existem outras zonas no país onde a indústria da tanoaria também ocupa o seu lugar, é o caso de, Vila Nova de Gaia, Lisboa e outras províncias com pequenas unidades artesanais, dedicadas praticamente à revenda e restauração.
Focaremos a nossa atenção na Tanoaria de Esmoriz pela sua móvel e curiosa história.
O Passado
Em tempos da guerra colonial a manutenção militar comprava quantidades enormes de vasilhame para enviar vinho para os nossos soldados no ex-ultramar.
Muitas das milhentas tanoarias então existentes trabalhavam para esse mercado.
Nas primeiras décadas deste século, o grande centro tanoeiro era Vila Nova de Gaia e a isso não era indiferente o papel na comercialização do vinho do Porto.
Como o envelhecimento do vinho, e não só, necessita de bons "cascos", Vila Nova de Gaia transformou-se num centro de tanoaria da mais alta importância.
Nessa altura, alguns esmorizenses palmilhavam os 20 km que nos separam de Gaia, para ganhar o pão de cada dia nessas tanoarias.
Pensa-se que terão sido essas pessoas que trouxeram para a sua terra a arte de tanoaria.
Instalando-se em acanhados alpendres e cobertos, trazendo consigo a força do trabalho e não mais que as ferramentas iguais às que à dezenas e centenas de anos os seus colegas de ofício usavam.
Com o aumento constante da procura e consequente produção, os primeiros "industriais" em breve se viram na necessidade de ampliar instalações. De facto a tanoaria ficará para sempre a marcar a transacção de Esmoriz dos campos e do mar para a Esmoriz das fábricas.
A indústria de Esmoriz rapidamente se transformou num centro de preferência pela excelência dos seus artistas e capacidade de trabalho.
O grande impulso da tanoaria de Esmoriz foi dado pela transformação no fabrico, que de manual passou gradualmente a maquinado, embora parcialmente, mas abrangendo as operações consideradas mais morosas. Teve neste aspecto influência decisiva o Decreto-lei nº42808 de 16/01/60, ao obrigar as industrias viradas à exportação a remodelarem as suas instalações, obedecendo a determinadas exigências.
Na aparência, este decreto- lei, pelas suas exigências deveria ser considerado como grande impulsionador da industria e consequente benéfico.
E sê-lo-ia efectivamente se em 25/09/67 não tivesse surgido a tão discutida Portaria n.º 224 que proibiu a exportação do vinho em barril. Desde logo salta à vista a disparidade entre estes dois documentos.
Em 1960 obriga-se a indústria virada à exportação a remodelar-se de alto a baixo, volvidos sete anos proíbe-se a exportação. É exactamente nessa altura que tem início a actual crise da indústria de tanoaria em geral e Esmoriz em particular.
Presente e futuro
Como se disse a indústria da tanoaria em Esmoriz começou por volta de 1910 vindo a aumentar progressivamente até 1967. Daquela data ao presente aparecem-nos crises alternadas com períodos de normalidade e prosperidade apresentando-se actualmente numa situação mais agravada pelo actual contexto político-económico.
Para além de umas quantas a laborar artesanalmente, são hoje mais de uma dezena as indústrias tanoeiras de Esmoriz e a maior delas emprega 21 pessoas.
Foi sem dúvida uma grande queda, mas as que resistiram, têm uma certa estabilidade. Provavelmente, perderão o mercado espanhol (que quer qualidade mas não se dispõe a pagar o justo) mas ele pode ser compensado com uma maior penetração noutros países da CEE.
Por outro lado, volta e meia acusam pequenas quebras ditadas por um ano de menos produção vinícola, mas, apesar disto, pode-se falar numa certa estabilidade.
Ameaças ao futuro da tanoaria esperam-se para dentro de uma década, não por falta de encomendas, mas por comércio de mão de obra. É que os tanoeiros especializados têm todos mais de 40 anos e a sua reforma não tardará enquanto que os jovens não sentem qualquer atracção para o sector.
Apesar de exigir engenho e arte, a profissão é dura e mal paga.

Curiosidades
15 passos para obter um barril
Fase de serração
1º- A madeira (de castanho), que chega em toros é cortada em abas e, depois, em aduelas.
2º- Durante cerca de meio ano, as aduelas vão permanecer em grades ou castelos para secar.
3º- Quando as aduelas "são chamadas" ao destino, procede-se à destrinca: as melhores, depois de aperfeiçoadas, são destinadas ao corpo dos barris; as outras servirão para os tampos; e um terceiro grupo das que têm nós ou estão rachadas ficam de lado.
Fase de tanoaria
- Os tampos
4º- Os tampos são feitos, unindo-se as aduelas de madeira fraca por intermédio de pregos de duas pontas. Em cada junção é colocada "palha de tábua", para vedar bem.
5º- Seguem-se duas fases de aperfeiçoamento: a de arredondamento do tampo, um trabalho a que um compasso de ferro dá as coordenadas; e a da fundagem (alisamento da madeira).
- Os arcos
6º- São feitos em ferro importado da Alemanha. Cortam-se na medida exacta e unem-se as extremidades com cravos.
7º- O corpo do barril
8º- As aduelas utilizadas para este efeito - as mais perfeitas - são cortadas nas medidas exactas e "isquidas" e enlombadas (dá-se-lhe o bojo).
- A montagem
9º-O barril é montado, não com os arcos definitivos, mas sim com os chamados "arcos de bastição", que se caracterizam por uma maior resistência, necessária para aguentar as pancadas com a malho.
10º-Num desses cucos, encaixa-se o "moço" ( faz o lugar de um homem) e a ele se irão encostar as aduelas.
11º-É com a "pareia" que se calcula o n.º de aduelas suficientes para um barril de dada dimensão.
12º-Fechado o círculo, prendem-se as aduelas com outro arco de bastição.
13º-Segue-se o espargimento ( os barris vão ao fogareiro para apertar os arcos).
14º-Trocam-se os arcos de bastição pelos definitivos, mas antes da colocação dos últimos, aplicam-se os tampos, com a ajuda de um "alheta".
14º-Veda-se o barril com parafina e barro.

in "www.ovarvirtual.com"


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