1756 - 2002
Foi no dia 10 de Setembro de 1756, por Alvará Régio de El-Rei D. José I e sob os auspícios do seu Primeiro Ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, Marquês de Pombal, que foi constituída a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, também denominada de Real Companhia Velha.
Esta companhia era formada pelos principais lavradores do Alto-Douro e Homens Bons da Cidade do Porto. À Companhia foi confiada a missão de sustentar a cultura das vinhas, conservar a produção delas na sua pureza natural, em benefício da Lavoura, do Comércio e da Saúde Pública. Parte da história desta companhia é descrita neste Guia, na breve história do Vinho do Porto. No entanto, não queria deixar de focar mais alguns dados importantes na história desta tão importante casa.
Em 1781, a Real Companhia Velha leva os seus vinhos até Catarina da Rússia, através de grandes carregamentos em navios fretados para o efeito, iniciando assim a navegação portuguesa para portos do Báltico e as permutas comerciais com aquele país.
Durante as Invasões Francesas (1809), as tropas de Napoleão requisitaram os vinhos da RCV, que assim faziam parte da ração dos soldados Franceses. Quase ao mesmo tempo (1811), Lord Wellington e as suas tropas consumiam também os vinhos da RCV, destacando-se um fornecimento de 300 pipas, feito através dos seus armazéns da Régua, ao exército de então estacionado em Lamego. Durante os séculos XVIII e XIX, grandes esquadras de navios carregados com Vinho do Porto da Real Companhia Velha partiram para o Brasil, onde a Companhia detinha o exclusivo do fornecimento dos vinhos do Alto-Douro. Nos anos de 1851/52, a Companhia possuía entrepostos comerciais para os seus vinhos em quase todos os portos do mundo, sob a protecção das missões diplomáticas portuguesas.
Para fazer face a esta enorme expansão, a Companhia teve de mandar construir diversas fragatas de guerra para proteger a navegação portuguesa dos piratas argelinos que vagueavam ao largo da costa portuguesa. Em 1762, a Companhia cria no Porto a Aula de Náutica, mais tarde convertida na Real Academia de Comércio e Marinha, em 1803. Mais tarde esta Academia foi transformada na Academia Politécnica do Porto, que está na origem da actual Universidade do Porto. Entre 1789 e 1791, a Companhia procedeu a uma série de trabalhos de melhoramento da barra do Douro. No Douro mandou cortar os rochedos que formavam o Cachão da Valeira; este trabalho começou em 1780 e terminou em 1792, vindo assim regularizar o curso do Rio Douro, tornando-o navegável até Barca d` Alva. Por Alvará Régio de 1760, a RCV, foi autorizada a montar destilarias para a produção de aguardente vínica, nas províncias da Beira, Minho e Trás-os-Montes. Em 1855, foram destiladas 85.658 pipas, tendo produzido 8.087 pipas de aguardente. Para sustentar a cultura das vinhas, a Companhia emprestou somas importantes aos lavradores necessitados, permitindo, assim, uma melhoria dos preços dos vinhos e, por conseguinte, uma significativa melhoria no rendimento dos lavradores. Fruto dessa acção, chamavam à Companhia o Banco do Douro Esta empresa foi adquirida em 1960, bem como a Real Vinícola em 1962, por Manuel da Silva Reis, mantendo-se nesta família até aos dias de hoje.
Autor: Abílio Forrester Zamith
In Guia do Vinho do Porto, Chaves Ferreira - Publicações, S.A.